11/12/2017

Dia Internacional dos Direitos Humanos é marcado por mobilização indígena em Porto Alegre (RS)

Centenas de pessoas se dirigiram ao Parque da Redenção para celebrar a resistência dos povos indígenas e manifestar apoio e solidariedade à comunidade Guarani Mbya de Maquiné

Mobilização reuniu indígenas Guarani Mbya e centenas de apoiadores da causa. Fotos: Roberto Liebgott/Cimi Regional Sul

Mobilização reuniu indígenas Guarani Mbya e centenas de apoiadores da causa. Fotos: Roberto Liebgott/Cimi Regional Sul

Por Cimi Regional Sul, Equipe Porto Alegre

Porto Alegre, domingo, 10 de dezembro, Dia Internacional dos Direitos Humanos, marcado pela mobilização em defesa dos povos indígenas. Os cantos, as danças, as falas e a mística Guarani Mbya marcaram o dia de mobilização e luta pela defesa dos direitos indígenas e, em especial, dos direitos territoriais da comunidade Guarani de Maquiné.

Centenas de pessoas se dirigiram ao Parque da Redenção, em Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, para celebrar a resistência dos povos indígenas e manifestar apoio e solidariedade à comunidade Guarani que, em 27 de janeiro de 2017, decidiu realizar a retomada de uma porção de terra no município de Maquiné. Na terra retomada localizava-se a extinta Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (Fepagro).  

Os Guarani, tradicionais ocupantes das territórios no litoral do Rio Grande do Sul, foram expulsos de suas terras e têm sido submetidos a uma existência precária, em acampamentos às margens de seus territórios ancestrais ou deslocados para áreas degradas, com águas contaminadas e sem as condições adequadas para viverem o Ñhanderekó (seu modo de ser).

A retomada de Maquiné, conforme afirmam os Guarani Mbya, colabora com seus propósitos de resgatar parcelas de terra que antes integravam seu vasto território. Nas áreas podem ser encontradas as marcas da passagem de seus ancestrais, e que permitem viver com dignidade. A retomada, segundo os Guarani, foi possibilitada porque Ñhanderu determinou que acontecesse. A terra – com seus recursos ambientais preservados, com nascentes de águas, com ervas, matas, animais, flores, sementes e  frutos – possibilita o envolvimento e o Bem Viver. Por esta terra, em Maquiné, os Guarani lutam incansavelmente.

O dia de mobilização, no Parque da Redenção, uniu centenas de simpatizantes da causa indígena, dentre eles artistas regionais, cantores, compositores, entidades de apoio, autoridades, políticos, personalidades do Judiciário, do Ministério Público Federal (MPF), da Defensoria Pública da União (DPU) e tantas outras pessoas que, juntas, prestaram solidariedade aos indígenas e às lutas daqueles que vêem, na atualidade, os seus direitos sendo aniquilados por governantes e políticos inescrupulosos e ambiciosos.

Diversas atrações e intervenções artísticas movimentaram o evento. Mimmo Ferreira e Carolinne Caramão, Alabê Oni, Três Marias, Toque de Comadre, Nelson Coelho de Castro, Lila Borges, Nicolas Spolidoro, Marcelo Delacroix, Alexander Missel Knorre, o coral Tekoá Ká’agua, Odomode (Paulo Romeu) e Aloizio Pedersen foram alguns dos que se apresentaram, sendo acompanhados ainda pela percussão do Afro-Sul, por uma esquete sobre a violência contra a mulher, elaborada pelo Fórum Estadual de Entidades de Mulheres do RS e por um desfile do Bloco Performático “No Mundo da Lua”.

Diante de ações públicas de desrespeito às diferenças, de desmonte das estruturas que podem assegurar bem-estar à população e de total descaso para com os  direitos humanos, sociais, trabalhistas, previdenciários, educacionais, é necessário fortalecer os laços de solidariedade e manter articuladas os setores que buscam um futuro mais digno.

A luta seguirá contra o marco temporal da Constituição, contra a PEC 215/2000, contra o PL31/2015, contra o Parecer 001/2017 da Advocacia-Geral da União (AGU), contra o racismo institucional e pela demarcação e garantia dos territórios indígenas e quilombolas.

Porto Alegre foi agraciada, no dia dos direitos humanos, pela coragem e resistência dos povos indígenas, pela força de sua mística, pela persistência na busca pela garantia de seus direitos originários. Em tempos de acentuado individualismo e de sensível desesperança, a presença suave e a espiritualidade dos  Mbya é inspiradora e pode nos servir de alento, para vislumbrarmos e anunciarmos que o amanhã será melhor.

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