28/05/2018

Em carta da 18ª Assembleia, povo Xukuru reafirma luta em Xikão contra toda política colonialista

“Eu Sou Xikão, por lutar pelo meu Território, por meus direitos, por buscar igualdade, por querer espaço de voz e vez, por fazer parte da minoria esquecida e massacrada pelos opositores”, assegura carta final da Assembleia

Cacique Marcos Xukuru durante a tradicional descida da Serra do Ororubá para a rua no município de Pesqueira. Foto: Meyriane de Mira/ Mídia NINJA

Por ASCOM CIMI

O povo Xukuru do Ororubá, do agreste de Pernambuco, realizou de 17 a 19 de maio a XVIII Assembleia, que marcou a memória dos 20 anos do assassinato do cacique Xikão “um guerreiro que deu a vida pela causa do Povo Xukuru”. No documento final do encontro, cerca de duas mil pessoas, entre indígenas e representantes de entidades indigenistas e parceira do povo, reafirmaram prontidão no “combater a omissão do Estado brasileiro na demarcação das terras de nossos parentes que ainda sofrem pela ocupação dos latifundiários”.

Os Xukuru reforçaram a resistência dos povos indígenas contra práticas historicamente adversas aos seus direitos. “A colonização matou muitos de nós. Chegar até aqui significa que somos resistentes! ”, declaram na carta. “O sistema econômico e político não difere desta colonização. A todo momento querem impor-nos maneiras de viver, pensar e de comporta-se diante da sociedade”.

“Temos a certeza que, esse sangue derramado é fonte de vida, fonte que rega a semente plantada para germinar, crescer e dar frutos de guerreiros e guerreiras”

A memória do líder Xikão transcorreu todo o encontro, como semente para as lutas presentes e futuras. “Cacique Xikão e esta luta não está no passado, ela dar-se na atualidade com todos os que estão contrários à causa indígena, que buscam, de forma pessoal e política, diminuir ou erradicar os direitos conquistados com o sangue de nossos guerreiros e guerreiras”.

“Esperamos e lutaremos pelo cumprimento da sentença!”

Em março, a Corte Interamericana de Direitos Humanos reconheceu a responsabilidade internacional do Estado brasileiro na violação aos Direitos de propriedade coletiva, garantia judicial de um prazo razoável e proteção judicial em relação ao povo indígena Xukuru de Ororubá. A decisão histórica considerou que Estado atuou de forma lenta e inadequada na demarcação da terra do povo. O processo de demarcação do território desse povo, iniciado em 1989, até hoje não foi finalizado, com a retirada de ocupantes não indígenas, assim como a garantia de proteção, o que já levou a assassinatos de indígenas no passado.

LIMOLAYGO TOYPE: EU SOU XIKÃO!

Nós, Povo Indígena Xukuru do Ororubá, reunidos no período de 17 a 19 de maio de 2018, realizamos nossa Assembleia Anual que teve início com o Ritual Sagrado, realizado no Terreiro do Rei do Ororubá, pedindo força aos Encantados, ao nosso Pai Tupã e à nossa Mãe Tamaim para abrir os caminhos e orientar nossas atividades. O Espaço Mandarú, completando um (1) ano de construção e batismo, acolhe a todos os parceiros, amigos e amigas, e nosso Povo que vem a este Lugar Sagrado para participarem de nossa Assembleia. Este ano, em especial, o Povo Xukuru revive, com emoção, a memória dos vinte (20) anos do assassinato do Cacique Xikão. Filho, esposo, pai, avô, amigo, companheiro, um guerreiro que deu a vida pela causa do Povo Xukuru, hoje, Encanto de Luz, nos dá força, persistência e coragem para enfrentar os embates cotidianos. Exemplo para todos! Trazendo na memória e no peito a Identidade Xikão Xukuru, a Assembleia, neste ano 2018, discute o Cacique Xikão, lembrando a todos sua vida pessoal e luta ao lado do Povo que tanto amava.

Contamos com a participação de cerca de duas mil (2.000) pessoas nestes três dias. Além dos guerreiros e guerreiras do Povo, representantes das Aldeias Pão de Açúcar, Pé de Serra de São Sebastião, Pé de Serra dos Nogueiras, Cana Brava, Brejinho, Afetos, Caípe, Caetano, Couro Dantas, Oiti, Caldeirão, Capim de Planta, Lagoa, Cimbres, Sucupira, Guarda, Jatobá, Pedra D’Água, Curral Velho, São José, Gitó, Mascarenhas, Santana, Passagem, Cajueiro e os indígenas da Cidade, como também os parentes dos Povos Kapinawá, Kambiwá, Pankararú, Truká, Fulni-ô, Tapuia, Tabajara, Potiguara, Baré, Guajajara, Pitaguary.

Contamos ainda com a presença de várias instituições e apoiadores, sendo eles: IFPE- (Floresta, Pesqueira, Garanhuns, Petrolina), UFPE-( Recife, Vitória e Caruaru), UFPB, UFRN, UPE, UFBA, FACOL, NEABI – UEPB, METROPOLITANA, Greenpeace, Quilombo Mundo Novo, IPJ – Instituto Protagonista da Juventude, PCB, Grupo ALAFIN OYÓ, Movimento Nacional dos Meninos e Meninas de Rua, Coletivo dos Educadores Sociais – Recife, Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Pesqueira, Jornal das Comunidades, MCP – Movimento das Comunidades Populares, CIMI, Fundação Joaquim Nabuco, PT Pesqueira, PSOL, PDT, PCB, FOJUPE, FETAPE, MIRIM Brasil, SERTA, COJIPE, IPA, PDT.
Afirmando o “Eu Sou Xikão” nestes três (3) dias, a partir de sua História de Luta, a juventude Xukuru, utilizando o que tem de mais moderno para fortalecer o que tem de ancestral, externa na plenária, em vários momentos, seu posicionamento na promoção da identidade indígena nos diversos meios onde estão inseridos, assumindo a responsabilidade e protagonismo na continuidade da luta.

Várias pessoas enaltecem suas lutas em defesa de nosso Território ao lado do Cacique Xikão e esta luta não está no passado, ela dar-se na atualidade com todos os que estão contrários à causa indígena, que buscam, de forma pessoal e política, diminuir ou erradicar os direitos conquistados com o sangue de nossos guerreiros e guerreiras.

Devemos ser vigilantes, não aceitar a mudança desses direitos. O massacre, a impunidade, a violabilidade dos direitos, a falta de respeito à história, à crença e hábitos devem acabar.
A colonização matou muitos de nós. Chegar até aqui significa que somos resistentes! O sistema econômico e político não difere desta colonização. A todo momento querem impor-nos maneiras de viver, pensar e de comporta-se diante da sociedade, sem levar em consideração o que a Constituição Federal nos garante em seu Artigo 231 e 232 que reconhece ao indígena o direito de organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam.

Fortalecidos com a vitória na Corte Interamericana de Direitos Humanos – CIDH, que responsabiliza o Estado Brasileiro pela violação de direitos do Povo Xukuru, com sentença unânime. Determinando que o Estado conclua o processo de desintrusão e garanta de maneira imediata e efetiva o direito de propriedade coletiva do Povo Xukuru sobre a Serra do Ororubá. Esperamos e lutaremos pelo cumprimento da sentença!

Desta maneira, vamos combater a omissão do Estado brasileiro na demarcação das terras de nossos parentes que ainda sofrem pela ocupação dos latifundiários. O Povo Xukuru do Ororubá, em união com todos os parentes que se identificam com a luta de Mandarú, grita sem medo: EU SOU XIKÃO!

Eu Sou Xikão, por lutar pelo meu Território, por meus direitos, por buscar igualdade, por querer espaço de voz e vez, por fazer parte da minoria esquecida e massacrada pelos opositores. Eu Sou Xikão por querer um país livre de impunidade, de ganância, de poder, de individualismos. Eu Sou Xikão porque derramarei meu sangue, se preciso for, por meu Povo, pelas matas, pela água, pela Terra. E temos a certeza que, esse sangue derramado é fonte de vida, fonte que rega a semente plantada para germinar, crescer e dar frutos de guerreiros e guerreiras.

O Povo Xukuru fortalecido, sem medo, renova seu compromisso na construção de uma sociedade justa, fraterna e plural.

– Diga ao Povo que Avance! – Avançaremos!
Aldeia Pedra D’Água, 19 de maio de 2018.

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