06/07/2018

Indígenas inauguram escola autônoma em Maquiné (RS)

A escola Mbya Guarani foi construída de forma biossustentável, baseada em conhecimentos ancestrais e tem por objetivo manter a cultura indígena e dialogar com as demais comunidades

A escola é baseada em conhecimentos ancestrais e tem por objetivo manter a cultura indígena e dialogar com as demais comunidades. Foto: Divulgação

Por César Fraga, no Extra Classe

No próximo sábado, 7 de julho, ocorrerá a abertura da Escola Autônoma Tekó Jeapó, na aldeia Tekoa Ka’aguy Porã (mata sagrada), pertencente a etnia Mbya Guarani, em Maquiné, RS.  O nome da escola em livre tradução significa “cultura em ação” e se inspira na necessidade/objetivo da escola que é manter ativa a cultura ancestral indígena.

O evento contará com rodas de conversa, fundação da associação de amigos da escola, almoço tradicional guarani, apresentação do coral da aldeia, apresentações musicais, oficinas de artesanato guarani, oficina de serigrafia, acampamento no local, grande fogueira e roda de música, formam as atividades da inauguração.

Para o cacique André Benites a escola Tekó Jeapó representa “uma retomada da cultura, dos saberes e tradições ancestrais que vem se perdendo ao longo do tempo. A escola busca proporcionar à nação Mbya Guarani uma conexão com sua cultura, relacionando-a com o mundo contemporâneo, para que dessa forma possam ter autonomia para escolher seu caminho independente das regras preestabelecidas pelo homem branco”.

“Um espaço de trocas culturais, um centro cultural”

De acordo com a percepção Mbya a escola serve para a comunidade, onde os adultos e crianças aprendam juntos, sendo um espaço de trocas culturais, um centro cultural, que receberá visitantes da região, bem como de diversas partes do mundo, compartilhando conhecimentos, ensinando e aprendendo com a comunidade.

A escola receberá diariamente as crianças e jovens da aldeia, porém ela vai ser um local onde pessoas de outros locais possam aprender em conjunto, já está recebendo e vai continuar a receber voluntários, visitas de jovens de outras escolas e universidades da região, visitas de escolas de outras aldeias indígenas, assim como atividades relacionadas a variados conhecimentos reunindo diferentes grupos de pessoas, será um espaço que proporcione trocas culturais.

Diferencial pedagógico está na valorização da cultura Mbya Guarani

Tekó Jeapó ou cultura em ação,  diz respeito ao movimento de aprendizagem pelo qual passam as crianças e jovens Mbya sem, no entanto, limitar-se às estruturas físicas e pedagógicas de uma escola convencional não indígena. Através da vivência, a Tekó Jeapó será o local para aprender os ofícios, as técnicas, os ensinamentos espirituais, estudar as matas, os bichos, as águas, o céu, integrando o conhecimento Mbya com as possibilidades de aprendizado que derivam do contato com as comunidades do entorno.

A concepção do projeto é do cacique André Benites e tem a intenção de construir uma nova educação, autônoma, para que a cultura da nação Mbya Guarani possa expressar e reforçar sua cultura.

A educação Guarani relaciona-se diretamente às atividades cotidianas que conforma e define o MbyaRekó ou “o modo de ser Mbya Guarani”. Para além dos conhecimentos de português e matemática, em nada desvalorizados ou negligenciados, a escola é local para os indígenas aprenderem a ser um Mbya Guarani.  Cerca de 20 crianças e jovens da aldeia participarão diariamente das atividades promovidas pela escola.

“Além de escola, será um espaço de trocas culturais, um centro cultural”. Foto: Divulgalção

A coordenação pedagógica da escola será do cacique André Benites e do professor guarani Romário, que já coordena os ensinamentos com os jovens e crianças. A educação guarani parte do princípio da espontaneidade, para eles se vive no agora. O planejamento pedagógico vem da construção no dia a dia, nas atividades que geram a subsistência da cultura guarani. Para eles, os responsáveis pela educação das crianças são, em primeiro lugar, as famílias e são o que compõem a comunidade e as regras na aldeia vem da comunidade. Neste caso pedagogia virá das necessidades das famílias, sendo espontânea e surgindo com o decorrer do tempo.

“A própria construção da escola é parte da pedagogia proposta, envolvendo toda a comunidade e apoiadores,  significando a educação na prática, na ação” explica o cacique André Benites.

A escola receberá diariamente as crianças e jovens da aldeia, porém ela vai ser um local onde pessoas de outros locais possam aprender em conjunto, já está recebendo e vai continuar a receber voluntários, visitas de jovens de outras escolas e universidades da região, visitas de escolas de outras aldeias indígenas, assim como atividades relacionadas a variados conhecimentos reunindo diferentes grupos de pessoas, será um espaço que proporcione trocas culturais.

A construção da escola contou com ajuda de apoiadores

De acordo com o arquiteto Francisco lang, que integra o Mova-C (grupo  de apoiadores), a escola foi pensada para ser construída da maneira tradicional guarani, respeitando as potencialidades do local com materiais da região, executada por construtores locais e  tendo a participação da comunidade e dos apoiadores.

Foto: Divulgação

Segundo ele, a construção teve início em fevereiro desse ano. Foi feita toda estrutura de madeira reforçada,  e suas paredes foram feitas de barro; técnica tradicional guarani potencializada com conhecimentos da bioconstrução trazidos por arquitetos e construtores locais para que possa durar décadas.  As paredes da escola foram executadas por meio de mutirões, como é comum na tradição guarani,  contando com a participação de 300 pessoas com a intenção de aprender e ajudar a construção do sonho, cada parede com sua identidade, forma, desenho, gerando autonomia tanto para a comunidade, quanto para os participantes não-indígenas.

O espaço da escola onde serão dadas as aulas está pronto, mas a ideia é seguir a construção para criar outros espaços de convívio e aprendizado. “Se percebeu que até construir a escola é uma atividade da escola, uma escola ativa, abrangente, natural”, afirma.

Financiamento Coletivo

O projeto está fazendo captação de recursos financeiros, materiais e humanos para viabilização da escola Tekó Jeapó. Interessados contribuir devem acessar a Vakinha.

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